USP 2034: planejando o futuro sem olhar o presente?

Em 2034 a USP completará 100 anos. Ano passado foi organizado pela atual reitora da universidade, Suely Vilela, um workshop comemorando 75 anos da universidade, com um amplo espaço de discussões  sobre o futuro da USP: Planejando o Futuro: USP 2034. Louvável a iniciativa.

Participei de várias apresentações e debates desse workshop. Uma delas, do Filipe Cassapo, superintentende da FNQ, me chamou muito atenção, pois ele explicou a importância de se formar uma rede social para a USP, colocando seu conteúdo online e como isso poderia agregar valor à instituição. Vale a pena ver a apresentação do Filipe, bastante sucinta e objetiva.

O Conhecimento como Recurso Estratégico Agregando Valor à Instituição (22 minutos)

(Download do PDF da apresentação aqui)

Logo depois, durante o debate sobre a apresentação, chamei atenção para o fato de que a USP já possui (ou possuía?) uma plataforma de rede social, o projeto Stoa, onde seus membros podem divulgar suas idéias através de blogs, há espaço para guardar arquivos, fóruns de discussões ou blogs coletivos etc..Vejam o vídeo com minhas explicações sobre o projeto Stoa e alguns questionamentos:

Nessa época o projeto Stoa tinha um pouco menos de 2 anos de existência. Minha pergunta principal para o Filipe foi “Como estimular os docentes a usarem uma plataforma como o Stoa, usando seus blogs para divulgar seu trabalho?”

Após a resposta do Filipe, quem falou foi o professor Glaucious Oliva, elogiando o  que falei sobre o projeto Stoa, tocando num ponto importante, o de que temos que transformar as pessoas. Transcrevo um trecho sobre o que ele disse, com alguns grifos meus:

“O Everton, talvez um dos mais jovens entre os aqui presentes capitou o que eu considero talvez o grande desafio nosso. São as pessoas que vão fazer a diferença. A Universidade de São Paulo tem uma história de 75 anos, tem uma infra-estrutura, um patrimônio, uma tradição, um ativo físico que é expressivo, mas para uma universidade do século XXI, a gente sabe, é o conhecimento o nosso principal ativo e são as pessoas que vão fazer essa transformação. Que dizer, as ferramentas, como o Stoa, por exemplo, estão disponíveis. É um sistema na Internet que o CTI disponibiliza a possibilidade dos professores e estudantes fazerem suas páginas, os seus blogs… mas nós temos que transformar as pessoas, que vão ter que utilizar e que vão ter que aplicar essas ferramentas. Os recursos, como o professor Krieger muito bem lembrou, hoje estão como nunca disponíveis para pesquisa, mas são as pessoas que vão ter que mudar sua maneira de encarar a pesquisa. Quer dizer, nós ainda operamos, seja em sala de aula, seja em laboratório, de uma forma muito linear. O nosso ensino é linear, eu vou para sala de aula, com o giz, e o que o estudante vai aprender ele vai ouvir da boca do professor. Ou eu vou para meu laboratório com os meus estudante, vou estabelecer uma pergunta científica e vou resolvê-la com aquele grupo. Essa linearidade mudou. O mundo hoje é uma rede. O fenômeno Web, que a gente observou explosivamente nos últimos 10 anos, ele se reflete também agora na sociedade como um todo e na universidade em particular. Eu não posso talvez mais imaginar que daqui a 5 ou 10 ou 15 anos o ensino será feito exclusivamente do professor ensinando o aluno. Ele tem hoje acesso à informação, ao conhecimento pela Internet. Então nós temos que encontrar uma maneira de mudar essa relação do acesso ao conhecimento, usando as redes, usando os blogs, usando a Internet, usando também as ferramentas presenciais, é claro.

[…]

“Mas o futuro da ciência com impacto no desenvolvimento econêmico e social do país ele passa pelas redes colaborativas inter-disciplinares. Então também não dá mais para a gente imaginar que somos os detentores do conhecimento e que esse conhecimento será suficiente. Então esse trabalho de compartilhamento, de entender que a soma das partes é mais que o todo, isso vai depender da mudança das pessoas e das lideranças, naturalmente. nós estamos aqui, talvez com 100 pessoas, numa universidade que tem 100 mil, então temos 0,1% da comunidade universitária aqui representada. Mas isso é importante. É importante que as lideranças tenham essa consciência e que nós vamos precisar transformar as pessoas, pois são as pessoas que vão fazer a diferença.

Logo em seguida o professor Marcos Felipe de Sá disse algo curioso, sobre a dificuldade dos docentes usarem essas novas tecnologias, por causa da idade já avançada. O professor Marcos disse explicitamente que isso é uma questão de tempo, pois quando essa geração for substituída (o público presente riu nesse momento), as pessoas vão passar a usar mais essas ferramentas. Isso me lembra o que o Edgar (Walrus) disse, após meu perfil ter sido removido do Stoa, que alguns desses problemas que estamos vendo só serão resolvidos quando uma parte dessa geração atual morrer.

Após ter percebido que na Universidade de São Paulo não há espaço para iniciativas como o Stoa, pois liberdade de expressão parece (ainda!) ser um tabu entre algumas membros com alto poder político nessa instituição, repito o que o professor Glaucius tão bem enfatizou: temos que mudar as pessoas.

Felizmente é possível, atualmente, manifestarmos nossas opiniões na Internet usando serviços de terceiros (no caso, estou usando um serviço gratuito do WordPress, localizado em um outro país! Vejam essa observação de Alexandre Abdo, doutorando da USP).

Assim com meu amigo Carlos Otta disse em seu blog sobre esse episódio, o estado atual de nossa universidade apenas me entristece mais ainda. Tomara que algum dia mude para melhor. Que fique registrado (engraçado que aqui me sinto confortável para escrever, sem medo de ter minhas opiniões tolhidas) para as futuras gerações onde erramos. Uma melhora dessa situação atual independe de termos uma infra-estrutura maravilhosa e ferramentas tecnológicas modernas, se não conseguirmos mudar as pessoas.

Espero podermos olhar bem nossos erros do presente para, aí sim, podermos planejar melhor o futuro.


2 Comentários on “USP 2034: planejando o futuro sem olhar o presente?”

  1. […] USP 2034: planejando o futuro sem olhar o presente? « Blog do Tom a few seconds ago from choqoK […]

  2. […] isso me lembrou uma apresentação sobre redes sociais, num workshop organizado ano passado pela reitoria para discutir o futuro da USP. Preciso comentar? […]


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