Antigamente éramos mais humanos?

Lendo agora o texto da jornalista Cristina Castro, Não nos acostumemos mais!, e por causa de uma conversa ontem no encontro do Adote um Vereador, no Pátio do Colégio, acabei lembrando o relato de uma senhora num dia que estava indo para o aeroporto de Guarulhos, isso em 2009. Essa senhora, que já devia ter mais de 80, começou a conversar com o motorista sobre os moradores de rua, na medida em que passávamos no centro de São Paulo e víamos muitos deles dormindo na rua.

Puxando da memória o que ficou, disse ela: “Nossa, quando eu era mais jovem, se víssemos alguém morando na rua, a vizinhança, o pessoal do bairro, logo ia ver porque ele estava assim, o que havia ocorrido para estar lá, na rua e sozinho.” E o motorista, um pouco mais jovem, mostrava seu desconforto diante da situação. O número de moradores de rua hoje é tão grande hoje na cidade de São Paulo, em torno de 13 mil, que esse olhar humano diante de alguém vivendo nas ruas talvez praticamente não existe mais. Ou talvez simplesmente não sabemos o que fazer diante do quadro atual e ficamos quietos. Não podemos ficar quietos.

Durante minha graduação, entre 1999 e 2002, eu pouco vinha para o centro de São Paulo. Tanto que em alguns passeios com alguns amigos estrangeiros que fiz mais tarde, eles mais me guiavam com seus livrinhos do que o contrário. Mas tenho registrado na minha memória, durante a época da graduação, o dia em que vi, pela primeira vez, um ser humano, em plena luz do dia, agachar-se e começar a defecar, logo ali, para todos verem, sentirem o cheiro e, de certo, ignorarem. Foi algo impressionante para alguém pouco acostumado a vir para a região central de São Paulo, pois mais tarde vim a descobrir que isso não era tão incomum.

Há um ano e meio moro na região da Avenida Paulista e também venho frequentando mais a região central. É muito comum eu ter que desviar de alguém dormindo na rua quando ando por aqui ou ver um morador de rua falando sozinho, muitas vezes com cheiro de fezes e urina, algumas vezes andando à esmo nas calçadas de uma das avenidas mais ricas do pais, ali, abandonado, com todos nós não querendo passar perto por causa do cheiro e por causa do medo.

Como morador dessa região, mesmo que recente, minha impressão é que o número de moradores de rua tem aumentado, principalmente após o fechamento dos albergues da região central pelos nossos representantes. Posso falar apenas de impressão, pois nunca contei o número de mendigos, o que deve ser algumas dezenas agora, apenas na área que circulo.

Já transcrevi um trecho do livro O povo brasileiro, do Darcy Ribeiro, em que ele relata esse isolamento dos privilegiados diantes dos estratos mais pobres. O livro é de 1995, já tem mais de 15 anos e o relato é de um quadro que deve ter no mínimo duas décadas. Diante dessa situação de desumanização, que ocorre em outros momentos do nosso dia-a-dia, me pergunto muitas vezes, principalmente quando passo ao lado de um morador, ou quando vejo alguém dormindo dentro de uma caixa de papel, o que precisamos para ter um olhar mais humano para essas pessoas.

Às vezes penso se pegar minha simples câmera e começar a tirar fotos e fazer vídeos dos moradores de rua seria certo. As fotos, certamente, não seriam para fins comerciais, mas para fins de relatar essa omissão diante dos nossos olhos. É uma das idéias. Me parece claro que órgãos públicos também devem fazer alguma coisa, mas uma pressão da sociedade é necessária para que nossos representantes façam algo. Mas diante da passividade do povo brasileiros em questões que até mesmo lhe dizem respeito diretamente, ficou um tanto desanimado e pessimista.

E você, tem alguma idéia do que poderia ser feito?


Sobre a importância dos intelectuais e o estado crítico da educação no Brasil

(Publicado originalmente dia 5 de dezembro de 2007 em http://stoa.usp.br/tom/weblog/11315.html)

Apenas um pequeno trecho do The Responsibility of Intellectuals, do Chosmky.

“With respect to the responsibility of intellectuals, there are still other, equally disturbing questions. Intellectuals are in a position to expose the lies of governments, to analyze actions according to their causes and motives and often hidden intentions. In the Western world, at least, they have the power that comes from political liberty, from access to information and freedom of expression. For a privileged minority, Western democracy provides the leisure, the facilities, and the training to seek the truth lying hidden behind the veil of distortion and misrepresentation, ideology and class interest, through which the events of current history are presented to us. The responsibilities of intellectuals, then, are much deeper than what Macdonald calls the “responsibility of people,” given the unique privileges that intellectuals enjoy.”

Ando bastante incomodado com as repetidas notícias que tenho lido nos últimos anos sobre a situação da educação no Brasil. Não só com as notícias, como também com as consequências do pouco caso no nosso país com um assunto tão essencial. Acho desnecessário colocar os links para as últimas notícias, pois imagino que todos aqui devem estar cientes delas.

Guardo, em geral, no meu del.icio.us essas informações: http://del.icio.us/everton137/education+Brazil

Acredito que aqueles que se calaram tem uma grande resposabilidade para que as coisas chegassem ao estado atual. Não que sejam os únicos responsáveis. Isso seria bobagem. Mas que quem consente tem responsabilidade, ahhh, se tem!

Precisamos nos unir e, urgentemente, fazer algo.